6.28.2004

Duelo injusto




Abraço-te, pois o sentimento é mais forte. Nossas esperanças parecem vacilar, numa separação tão forte. Foram embora nossos melhores amigos, calorosos amigos desde sempre. Tornaram-se um dos nossos pontos de referência. Não conseguimos conter as lágrimas e a tristeza. Longas foram as noites e dias em que nós os quatro nos divertimos.
Abandonamos a estação do Arco do Cego, dissimulados por entre a multidão que se apressa para não perder o autocarro. Lágrimas causadas pelas separações não são estranhas nesses locais. Observo estático uma mãe que chora desalmadamente pelo filho que parte, seu corpo fardado não esconde um jovem com medo, medo da separação. Meu coração entra em compaixão, perplexo, quase tenho vontade de o abraçar. Sim está viva a separação em mim. "vamos beber café?" pergunto-te eu. Sentamo-nos na esplanada e conversamos. Falamos sobre aquilo que aqui descrevo. Falas-me sobre onde vamos passar o fim de semana. Sim porque estamos ainda na sexta-feira. Praia? Casa? Cinema?. Todas as sugestões soam talvez um pouco enfadonhas, já estamos a cair um pouco na rotina de fazer sempre as mesmas coisas. O certo é que não chegamos a nenhum consenso.
Vamos para casa um pouco desanimados e tristes, fala-me constantemente de Giovani e Grazia, nossas perdas, ainda a digerimos os acontecimentos da tarde. Nossa noite vai ser um pouco fora da rotina, resolvemos sair, sem rumo certo. Vamos até uma discoteca. A porta parece tudo um pouco assustador, o barulho, as luzes, a quantidade de gente. Entramos e parece desaparecer todos os receios as luzes põem-nos em transe, corpos movem-se em harmonia com a música, em harmonia com outros corpos. Começamos definitivamente a deixar envolvermo-nos pelo ritmo que cada vez mais aclamava pela nossa sensualidade.
Os teus movimentos destacam-se do resto, não consigo descolar os olhos de cima de ti. E à medida que a noite passa, a música muda, nossos corpos seguem uma frenética reacção em cadeia. Somos levados pelos nosso instintos. Estamos a celebrar o nosso amor. O nosso mais secreto "eu", que não parece nada estranho, tudo familiar. A noite chora lá fora, chora a nossa ausência, nós a sentimos. E saímos, para mais uma aventura. Não estamos minimamente preocupados com as horas, nem com ninguém, só importa a nossa diversão, nossa forma de esquecer. Já a noite havia caído no horizonte, a manhã dominava o céu. O sol entrava em nossos olhos, intrometendo-se no nosso sono, entrando sem permissão, teu olhos estão claros. Um castanho que não consigo descrever. E dizes-me precisamente o mesmo. Fiquei surpreso e até cheguei a pensar que estás a ler os meus pensamentos, sim estás. Até porque o beijo que ainda estou a pensar estas já a pedi-lo. O cansaço já é grande mas ainda restam energias para o que estou a pensar, vamos. Vamos perder-nos nos lençóis. E de facto a cama parece o nosso melhor refugio depois de uma noite agitada, vamos agitar e aquecer a nossa cama. O nosso quarto parece sorrir a nossa entrada triunfante, até me atrevo a dizer que está mais bonito agora depois de uma noite fora. Não consigo recordar nenhuma altura em que as nossas roupas fossem desabotoadas de despidas tão rápido. A noite passou rápido, mas aquele momento de reencontro teria de eternizar. Mais uma vez voltamos a suar, como se a música soasse em nosso ouvidos. Soletras-me ao ouvido "Amo-te". Meu Deus isso é verdadeiro prazer, estes teu lábios roçarem-me ao ouvido. Percorro cada curva do teu corpo, sinfónico, com curvas bem definidas. Cada gesto meu é respondido com um suspiro de alegria, divertimo-nos a falar do nosso amor. "Tudo o que precisas é de amor!".
"És um tolo, preciso de ti!". "a quantos homens já disseste o mesmo?", conversas e desconversas de uma pura inocência sem maldade, bem destacada pelos nossos sorrisos. Teus lábios brilham a luz, tua pele reluz a sua beleza, meu deus estou apaixonado por uma deusa. Este pensamento excita-me, tu correspondes-me ainda na projecção do que sinto. Fazemo-lo suave e brutalmente, amamo-nos ao nosso sabor, até os nossos desejos escondido por uma noite inteira serem absolutamente satisfeitos. Desejo que nunca acabasse. E mais uma vez repetimos como se a lição ainda estivesse aprendida. Teimosamente retornamos ao nosso ritual, em um dia que parece ter fim e nossa vontade é de atrasar o inevitável. Quando já só resta dois corpos exaustos, desgastados e atirados por cima da cama, ainda movidos pela força de batidas cardíacas, respiramos de alivio por termo-nos superado.
Sábado é um dia de glória, nossa glória. Seguimo-nos um ao outro em uma aventura que foi marcada pela noite, pelo dia seguinte.
Bom dia as nossas almas! Nunca pensei sentir assim, grande pelo acto, como se nunca tivesse vislumbrado o céu anteriormente. Quero sentir-me dentro do teu beijo. Todos os dias amo-te mais e mais. Ouves o meu coração? Ele diz-me para dar-te tudo. Subitamente o mundo tornou-se perfeito, subitamente a nossa vida deixou de parecer uma perda. Passamos a ganhar muito. Vencemos a nossa batalha. Somos vencedores. Duelo injusto, dois vencedores.
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6.26.2004

Amor patético, amor poético


A primeira vez imortalizada em uma lembrança que ocupa grande parte mim. Na minha tenra juventude, mais um perdido nos caminhos da ignorância. Fechado em mim, isolado de tudo e de todos. Em um mundo cru e bruto. Encontro aquela que seria a primeira e verdadeira paixão, experiência. Jovens, férteis de brincadeiras, amigos de longa data. Encontramos os nossos primeiros propósitos na noite de fim de ano. Depois de uma noite calorosa entre amigos e desconhecidos que rapidamente tornam-se familiares. Eu, somente eu, inocentemente virgem. Em tua casa para onde sou arrastado sou atacado pelo teu olhar possuidor. A ideia agrada-me, mas sinto medo, tenho medo do teu olhar que além de sedutor tem por entrelinhas, malícia. Deixo-me estar, estático, pálido, inseguro. Tu avanças sorrateiramente, tua mão ousa-me tocar, por instantes tento vacilar. Arrepios correm a minha espinha que fazem o meu corpo dobrar. Quebro-me em pedaços, e tento apanhar-me pelo chão. Entre carícias e toques o atrevimento floresce, peças de roupa são tiradas sem que seja dada a sua falta. Pela primeira vez vejo a tua tatuagem, tu vês a minha, harmonizam-se em um único desenho. Encontramo-nos, nus de alma e de corpo. Toda nossa caminhada é percorrida em silêncio, e em silêncio beijas-me. Nesse momento sinto a minha alma desprender-se de mim, pairo sobre nossos corpos a observa-nos em uma visão exteriorizada. Como repentinamente regresso violentamente ao meu corpo, para te vislumbrar nos olhos. E nesse momento entrego-me totalmente a ti. Nossos corpos explodem desejo, no segundo encontro dos nossos lábios, sinto o gosto da tua paixão. Escovo com os dedos as ondas do teu cabelo. Nosso metabolismo, alteram-se a um ritmo alucinante, entro em ti. Mimos são oferecidos em elogio a nossa brincadeira. Os movimentos são frenéticos, nossos suspiros esfusiantes. Por momentos quase paramos, em uma tentativa de esticar elasticamente o tempo. Tuas mãos percorrem-me todas as curvas do meu corpo. Sinto verdadeiro o paradoxo do meu medo saltar ao prazer absoluto. Sinto não só praze,r encarno no amor, pois é amor que fazemos. Amor puro e inocente. Onde o ciclo é repetido vezes sem conta, onde quando pensamos já não ter forças, restava ainda paixão.
Recordo há uns anos atrás, disseste que o amor era patético, Concluímos, nessa noite a verdade, amor é poético
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6.25.2004

Fomos projectados no tecto, sós, filhos de um Deus só.




Fomos projectados no tecto. A minha essência sorri. Os meus fantasmas libertam-se de mim, tornando-me mais maduro. Sinto-me solto... A minha alegria está centrada neste presente. Vivido até ao último suspiro. Vozes aclamam e valorizam o meu esforço. Esforço que não foi em vão. Toda a razão está conjugada não só no que sinto, mas da minha alma partilhada. Palpita-me muito.
Agora? Agora os sonhos são outros. Já sonho na tua ausência. Já não choro na tua partida. Vejo-te nítida, sensível ao meu toque… a visão de ti, inspira-me constantemente. Vou para a sala de estar, abro a janela e deixo que a brisa da manhã retire o cheio de casa fechada, deito-me no tapete de cores envolventes. O ar fresco, o silêncio, a luz do sol nascente, acompanham numa breve soneca. Fecho devagar as pálpebras e respiro a pleno pulmões até que começo a sentir a respiração como uma onda que vem e que vai. Fui mais uma vez embalado pelo sonho e a paixão embalou-me nos teus braços, sonhos de ti. Embora não consigo distinguir onde estou sei que és tu, a tua cara, o teu cheio, os teus olhos, a tua boca. Estamos encaixados um no outro como uma chave na fechadura, como uma enxada cravada na terra fértil. Acordo, dirijo-me ao quarto e a ti, o meu desejo de ti entorpece-me como se eu fosse um espumante fresco e picante capaz de dar o grau de embriagues necessário para os sentidos tocarem o ponto mais alto do céu. Tu sentias-te cada vez mais extenuada pelo meu corpo e pelos meus movimentos rápidos, ao aproximar de ti. O tempo parece tão lento, faz-nos perder a consciência. Peguei os laços de seda que durante a noite usaste para apertar-me os pulsos, mas para desta vez cingir os teus. Com as pálpebras cerradas faz-me intuir o teu desejo, ao te entregares a minha loucura. Pus-me em cima de ti , esfreguei a minha pele na tua, senti os nossos arrepios igualmente sacudidos por ligeiras ondas de prazer, os teus mamilos hirtos acariciavam-me o meu peito que picavam-me a pele lisa, a tua respiração encontra-se quente como a minha. Passo a ponta dos dedos pelos teus lábios massajando-os devagarinho. Senti a tua respiração no meu pescoço que sempre me faz suspirar. "Tu assim acabas por fazer-me enlouquecer" disse eu. Aproximas-te do meu rosto mantendo uma distância curtíssima e por isso bastante ousada e "Sim!", olhas-me de frente nos olhos "É o que tenho intenção de fazer". Voltamos a enfrentar a nossa batalha, selvagem e saborosa. A temperatura volta a subir. A luz que entra atrevidamente no quarto, torna-se indiferente a nossas investidas.
E no fim, tal como no início, somos projectados no tecto, entrelaçados nos nossos corpos e alma. A alma é danada, unidos como os filhos de um Deus só.
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Estou vago em mim, estou completo no mundo.



Movimentos são captados pelas mais ínfimas das sensibilidades. Em todo somos como uno. Massas movem-se em harmonias na hora de ponta. Todos são suspeitos, olhares são trocados. Encontrões oferecidos em beneficio próprio, somente para não se perder a próxima carruagem. Todo o espaço é preenchido. Vozes sussurram por alguns conhecidos, em outros apenas impera o silêncio. "Próxima estação Marquês de Pombal a correspondência com a linha amarela", saio ainda atónito, espantado e com algum receio da multidão, que embora apressada, parece mover-se em letargia. Estática, mas imparável. Milhares de indivíduos passam diariamente incógnitos, pelas entranhas da cidade que ainda desperta da noite agitada, que assistiu mais uma vez as loucuras da noite. No congelamento desse instante, em que vislumbro pontos uniformes bailando por entre corredores e escadas rolantes. Todos por serem uno, assemelham-se uns aos outros, não sendo perceptível grandes diferenças. Ao pisar o ultimo degrau, o ar que aflora misturado com os escapes de carros que correm loucamente para conseguir a vaga mais próxima do local de trabalho, o cheiro é horrível, as minhas narinas retraem. Percorro sempre aqueles sagrados metros até a porta do maldito santuário, local onde passo a maior parte da minha vida. Todos são familiares, todos são cumprimentados sempre com um simpático "Bom dia.", mas profundamente desconhecidos. Volto mais uma vez ao sistema para continuar a limpar o trabalho acumulado do dia anterior, o ecrã do computador já tem gravado o meu rosto, as teclas patinam nos meus dedos. Olho em frente vejo aquela cara que faz-me sorrir de simpatia, sim, a minha colega de trabalho, amiga a que aguenta as neuras a que devo muitas vezes aquela mão gentil. Graças a Deus existe alguém nesse mundo que está presente. Mas não só, há também aqueles que sempre ligam preocupados, querendo combinar saídas. Mais uma amiga que sai todos os dias para almoçar, bendita, o prazer que sinto nessa hora bem passada. Peculiar e caprichosa a vida. Saio tarde, o vazio impera. A cidade parece limpa, poucas almas vagueiam pelas ruas, uns de regresso a casa, outros ainda de saída para a noite. O vazio não é só da cidade, o vazio é geral. Impregnado o meu coração, nessas horas todas a almas em sincronia retiram aquele objecto especialmente feito para a ligação entre as pessoas. Os números já estão sempre gravados na agenda, outros são números novos, talvez mais uma nova ligação. O número total de ligações é impossível de imaginar. Os toques de telemóvel, o ruído das carruagens, a paisagem escura que passa, foram de tempos a repetição de antecessores a nós. Um ciclo imparável este. O stress de chegar ao recanto domina todas as vontades. Ao chega a minha estação a vontade parece passar, vagueio pela rua a procura da minha estrela. Aquela a quem jurei a minha vida, a minha excelência, o meu sentido oculto estrategicamente por mim para defesa própria. Ela brilha no céu, não, não está só, brilha com outras tantas. Brilha e ilumina o céu com uma luz única, eu cá em baixo brilho e não deixo de iluminar as minhas ligações. O meu complemento está ainda vago, pois vagueio caminhos por trilhas familiares mas não reconhecidas. Chego a casa onde és reencontrada, o meu império, aqui permito-me sentir. Ao sentir, que consegui chegar perto de ti. Alivio, senti a tua falta.


Agora que estou aqui que tens a dizer?
Que mais podemos fazer senão viver.
Amar e deixar ser amado.
Encerrar os capítulos, as guerras.
Para nada mais nos ser retirado.

Estou vago em mim, estou completo no mundo.
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