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Mensagens

A mostrar mensagens de junho, 2004

Duelo injusto

Abraço-te, pois o sentimento é mais forte. Nossas esperanças parecem vacilar, numa separação tão forte. Foram embora nossos melhores amigos, calorosos amigos desde sempre. Tornaram-se um dos nossos pontos de referência. Não conseguimos conter as lágrimas e a tristeza. Longas foram as noites e dias em que nós os quatro nos divertimos. Abandonamos a estação do Arco do Cego, dissimulados por entre a multidão que se apressa para não perder o autocarro. Lágrimas causadas pelas separações não são estranhas nesses locais. Observo estático uma mãe que chora desalmadamente pelo filho que parte, seu corpo fardado não esconde um jovem com medo, medo da separação. Meu coração entra em compaixão, perplexo, quase tenho vontade de o abraçar. Sim está viva a separação em mim. "vamos beber café?" pergunto-te eu. Sentamo-nos na esplanada e conversamos. Falamos sobre aquilo que aqui descrevo. Falas-me sobre onde vamos passar o fim de semana. Sim porque estamos ainda na sexta-feira. Praia? Casa?...

Amor patético, amor poético

A primeira vez imortalizada em uma lembrança que ocupa grande parte mim. Na minha tenra juventude, mais um perdido nos caminhos da ignorância. Fechado em mim, isolado de tudo e de todos. Em um mundo cru e bruto. Encontro aquela que seria a primeira e verdadeira paixão, experiência. Jovens, férteis de brincadeiras, amigos de longa data. Encontramos os nossos primeiros propósitos na noite de fim de ano. Depois de uma noite calorosa entre amigos e desconhecidos que rapidamente tornam-se familiares. Eu, somente eu, inocentemente virgem. Em tua casa para onde sou arrastado sou atacado pelo teu olhar possuidor. A ideia agrada-me, mas sinto medo, tenho medo do teu olhar que além de sedutor tem por entrelinhas, malícia. Deixo-me estar, estático, pálido, inseguro. Tu avanças sorrateiramente, tua mão ousa-me tocar, por instantes tento vacilar. Arrepios correm a minha espinha que fazem o meu corpo dobrar. Quebro-me em pedaços, e tento apanhar-me pelo chão. Entre carícias e toques o atrevimento fl...

Fomos projectados no tecto, sós, filhos de um Deus só.

Fomos projectados no tecto. A minha essência sorri. Os meus fantasmas libertam-se de mim, tornando-me mais maduro. Sinto-me solto... A minha alegria está centrada neste presente. Vivido até ao último suspiro. Vozes aclamam e valorizam o meu esforço. Esforço que não foi em vão. Toda a razão está conjugada não só no que sinto, mas da minha alma partilhada. Palpita-me muito. Agora? Agora os sonhos são outros. Já sonho na tua ausência. Já não choro na tua partida. Vejo-te nítida, sensível ao meu toque… a visão de ti, inspira-me constantemente. Vou para a sala de estar, abro a janela e deixo que a brisa da manhã retire o cheio de casa fechada, deito-me no tapete de cores envolventes. O ar fresco, o silêncio, a luz do sol nascente, acompanham numa breve soneca. Fecho devagar as pálpebras e respiro a pleno pulmões até que começo a sentir a respiração como uma onda que vem e que vai. Fui mais uma vez embalado pelo sonho e a paixão embalou-me nos teus braços, sonhos de ti. Embora não consigo di...

Estou vago em mim, estou completo no mundo.

Movimentos são captados pelas mais ínfimas das sensibilidades. Em todo somos como uno. Massas movem-se em harmonias na hora de ponta. Todos são suspeitos, olhares são trocados. Encontrões oferecidos em beneficio próprio, somente para não se perder a próxima carruagem. Todo o espaço é preenchido. Vozes sussurram por alguns conhecidos, em outros apenas impera o silêncio. "Próxima estação Marquês de Pombal a correspondência com a linha amarela", saio ainda atónito, espantado e com algum receio da multidão, que embora apressada, parece mover-se em letargia. Estática, mas imparável. Milhares de indivíduos passam diariamente incógnitos, pelas entranhas da cidade que ainda desperta da noite agitada, que assistiu mais uma vez as loucuras da noite. No congelamento desse instante, em que vislumbro pontos uniformes bailando por entre corredores e escadas rolantes. Todos por serem uno, assemelham-se uns aos outros, não sendo perceptível grandes diferenças. Ao pisar o ultimo degrau, o ar ...