7.31.2004

A Guerra



Os adversários entram na arena, soltas às feras que habitam no seu interior. Nesta batalha não há público, não há bilhetes à venda. Não existe cadeiras, não existe plateia. Nós próprios somos lutadores e assistimos ao nosso combate impiedoso, estamos presentes, somos astutos. Soltamos nossas feras, para um confronto. O combate é dissimulado em algumas brincadeiras, um jogo em todos os sentidos. Nossa carne passa de artificio, para utensílio. Paradoxalmente, usamo-la para dar valor e para maltrata-la. Toma lá, dá cá. O sangue nesta guerra é substituído pelo suor, sangramos suor a medida que as nossas forças são consumidas. Guerra, jogo, batalha que é apetecida e apreciada. A malícia é demonstrada a cada investida. Cada gesto é correspondido por gemidos profundos que demonstram claramente ao ponto em que esta a batalha. A arena tornasse confusa, perdemos a noção de gravidade, deixamos de definir a ficção da realidade. Nada importa, tudo interessa, ousadia. Nós, publico, levantamos e aplaudimos nossos desempenhos. Passivos, activos somos levados ao rubro. Onde restava apenas fazer um gesto, polegares para baixo, cada um de nós volta a levantar-se, para não haver entrega. Fazemos de nossa carne a nossa própria arma, as mãos servem para acariciar/arranhar, os dentes servem para morder, os braços para apertar/estrangular, os lábios para marcar território com a saliva ainda quente. O suor escorre e torna a arena escorregadia, dificultado mantermo-nos em pé. O combate segue com dois corpos deitados. Tréguas? Não sabemos ainda o que quer dizer. No terceiro round é notório o cansaço, nenhuma parte quer dar de si. Mostrar fraqueza? Não…Nesta guerra os propósitos estão bem claros e definidos, a batalha segue. Não existe piedade, não existe rancor. Adicionamos o sentimento a nossa violência. Aquilo que sentimos é indecifrável, está camuflado nos nossos golpes que tornam-se eternizados pelo tempo que parece não passar. Congelamos nossa excelência, pelo nosso duelo, onde não há vencedores nem vencidos. Onde um beijo que serviria para acalmar a fera, nada mais que reavivava a mesma. Deixando-a rugir ferozmente, atiçando as suas garras para mais uma investida. Ouvimos o toque, que indica o fim do combate. Entregamos nossos corpos ao nosso cansaço, exaustos tombamos na área. Conseguimos superar, conseguimos ouvir as nossas respirações que saem violentamente de nossas entranhas. Aplaudimos a nossa proeza de pé, para amanhã recordar que a arena foi palco da mais violenta das batalhas. Olhamo-nos e sorrimos a celebrar a nossa espontaneidade. Abraçamo-nos.
Por que essa guerra foi travada em nome do amor!
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7.23.2004

Bum Bum Bum



Nossos corpos transpiram, gotas de suor escorrem para ensopar nossa roupa. Foi longo o caminho, caminhos sinuosos, cheios de curvas. Paramos, a sede predomina. Uma fonte que banha a serra, cospe água gentilmente por entre as pedras já há muito polidas pelo tempo. Reparo na fonte e vejo algo peculiar, anjos gravados na pedra. Nossa conversa começou com a nossa volta de bicicleta, e incrivelmente aprofundamo-nos em nós próprios. Foi como se o anjo de pedrada houvesse atingido nossos corações com uma flecha. Falamos dos mais íntimos dos desejos, da natureza, do dia-a-dia. E progressivamente, alternamos as nossas palavras em brincadeiras, risos e gestos de ternura. Odores de feromonas e hormonas combinam-se no ar, em uma excelência absoluta criando a química. Mesmo o ambiente fresco da serra em combinação com a água fresca da fonte, são chegavam para arrefecer os nossos ânimos. Tu fazes-me um carinho, tuas mãos correm-me toda a espinha dorsal criando um efeito explosivo. Dou-te aquilo que me fizeste sentir com beijos suaves no pescoço. Oiço vozes, os anjos falam-me ao ouvido. Dizem-me coisas bonitas, levado a que todos os pensamentos impuros sejam anulados. Como és doce, como é bom ouvir as vozes. Questiono-me sobre a minha insanidade. Bebo um pouco da água, o calor começa a queimar-me por dentro, secando-me. Decidimos que uma sombra de uma árvore seria ideal para consumirmos o nosso amor. Harmonizamos com a natureza ao ponto de estarmos camuflados por entre a vegetação. Nossas almas gritam impiedosamente, chamando-se uma a outra. Estamos ali sentados, cheios de carinho, e é como se estivéssemos em outro plano existencial, estamos e não estamos. Todas as vontades e desejos são imortalizados a vista de um bosque velho, que inevitavelmente torna-se cúmplice da nossa cumplicidade e intimidade. Gravamos em nós todos os toques, todos os olhares, todas as trocas. Gravamos em nós nossos odores. Hoje estou aqui sentado, a pensar e o meu coração faz bum bum bum
Direito ao meu sentido, nas lides do dia a dia que consome todas as minhas forças. Forças arrancadas da minha alma, forças que não é identificado a sua origem. Será esperança, será apenas um sonho ou será mais uma ilusão. Somos o que somos e como sair de nossa personalidade para por mais uma vez poder tentar ser outro, quero por momentos deixar de ser eu. Quero sair de mim para encarnar em mim, um outro. Outro que não seja eu, quero experimentar essa sensação.


Sou mar agora, sou liquido,
sou transparente
Poderia ser somente uma pequena vaga
Um oceano azul cristalino e límpido,
Tratava-se de algo mais complexo.
Sim era o meu sentimento
Que vagueia pelos sete oceanos da minha existência
Sou pano, sou vela,
sou água
Assim completo em mim
As minhas aspirações
As minhas marés
As sereias cantam canções, quedo-me
Sou um peixe, um cavalo-marinho
Uma bolha de ar aprisionada
Por milhares de séculos
Por entre um fundo do mar obscuro
Frio e molhado

No pacífico sou mar quente e calmo
Sereno na minha pazIro-me
num turbilhão, uma tempestade
E prontamente deixo apaziguar
Calmo como uma tarde de verão
Sou forte, sou impiedoso
Piratas que cruzam-me de lés a lés
Exploradores, que descobrem
Conquistam terras longínquas
Este sou eu, azul na minha esperança
Cristalino e límpido nas minhas marés.
O leito é cúmplice da minha viagem
Viagem interminável
O bailar entre as luas que atraem
Hoje não vou mais viajar
Vou repousar
Nas ilhas do pacifico e deixar-me
Aquecer, em paz, sereno
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