Os adversários entram na arena, soltas às feras que habitam no seu interior. Nesta batalha não há público, não há bilhetes à venda. Não existe cadeiras, não existe plateia. Nós próprios somos lutadores e assistimos ao nosso combate impiedoso, estamos presentes, somos astutos. Soltamos nossas feras, para um confronto. O combate é dissimulado em algumas brincadeiras, um jogo em todos os sentidos. Nossa carne passa de artificio, para utensílio. Paradoxalmente, usamo-la para dar valor e para maltrata-la. Toma lá, dá cá. O sangue nesta guerra é substituído pelo suor, sangramos suor a medida que as nossas forças são consumidas. Guerra, jogo, batalha que é apetecida e apreciada. A malícia é demonstrada a cada investida. Cada gesto é correspondido por gemidos profundos que demonstram claramente ao ponto em que esta a batalha. A arena tornasse confusa, perdemos a noção de gravidade, deixamos de definir a ficção da realidade. Nada importa, tudo interessa, ousadia. Nós, publico, levantamos e aplaudimos nossos desempenhos. Passivos, activos somos levados ao rubro. Onde restava apenas fazer um gesto, polegares para baixo, cada um de nós volta a levantar-se, para não haver entrega. Fazemos de nossa carne a nossa própria arma, as mãos servem para acariciar/arranhar, os dentes servem para morder, os braços para apertar/estrangular, os lábios para marcar território com a saliva ainda quente. O suor escorre e torna a arena escorregadia, dificultado mantermo-nos em pé. O combate segue com dois corpos deitados. Tréguas? Não sabemos ainda o que quer dizer. No terceiro round é notório o cansaço, nenhuma parte quer dar de si. Mostrar fraqueza? Não…Nesta guerra os propósitos estão bem claros e definidos, a batalha segue. Não existe piedade, não existe rancor. Adicionamos o sentimento a nossa violência. Aquilo que sentimos é indecifrável, está camuflado nos nossos golpes que tornam-se eternizados pelo tempo que parece não passar. Congelamos nossa excelência, pelo nosso duelo, onde não há vencedores nem vencidos. Onde um beijo que serviria para acalmar a fera, nada mais que reavivava a mesma. Deixando-a rugir ferozmente, atiçando as suas garras para mais uma investida. Ouvimos o toque, que indica o fim do combate. Entregamos nossos corpos ao nosso cansaço, exaustos tombamos na área. Conseguimos superar, conseguimos ouvir as nossas respirações que saem violentamente de nossas entranhas. Aplaudimos a nossa proeza de pé, para amanhã recordar que a arena foi palco da mais violenta das batalhas. Olhamo-nos e sorrimos a celebrar a nossa espontaneidade. Abraçamo-nos.
Por que essa guerra foi travada em nome do amor!