Sinto-me envolto em um mistério cheio de encanto e admiração. Tento expressar meus sentimentos, mas só consigo transmitir uma mistura de devoção, surpresa e uma forte atração. Dentro de mim, cresce um desejo profundo e silencioso, vindo de algo maior do que eu mesmo. Há um olhar que me atravessa e me deixa vulnerável. Ele revela minhas sombras, meus medos e meus sonhos mais profundos. Sinto que esse olhar me cativa, levando-me para um lugar onde já não consigo resistir. Minha vontade começa a desaparecer, e tudo o que resta é a entrega. Ente o fogo e a calma, entre a luz e a escuridão, deixo que essa presença me leve. Cada gesto, cada silêncio e cada respiração carregam um poder hipnotizante que molda meus pensamentos e governa minhas emoções. No fim, já não me sinto separado disso. Torno-me parte desse desejo, dessa chama eterna que pulsa dentro de mim. Minha alma desperta, e tudo o que sou se mistura com aquilo que admiro, até que nos unimos em intensidade e significado. Poema ada...
A poesia, para mim, nunca foram apenas palavras organizadas, ela sempre existiu como uma presença viva, feminina, antiga, insistente. Quando escrevo sobre ela, não estou a inventar uma personagem, estou a reconhecer uma entidade que me antecede e me transcende. Sinto-a como uma figura arquetípica, uma espécie de musa primordial, mas também algo maior, quase uma divindade íntima, aquela que se deita entre o que vejo e o que sonho. Ela domina, seduz, guia. Às vezes sou eu que a invoco, outras vezes é ela que me reclama. Percebo que ela habita o espaço onde a razão e a loucura se encostam. A criação sempre brotou desse limiar, dessa zona onde tudo pode nascer ou se desfazer. Quando digo que ela se move por abismos, estou a falar desse território interior onde o inconsciente abre suas portas. Ali, imagens se formam sozinhas, vozes esquecidas se revelam, e eu me torno apenas testemunha daquilo que passa. A poesia é a guardiã desse portal, a mensageira que vai e volta, trazendo fragmentos...