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Duelo injusto




Abraço-te, pois o sentimento é mais forte. Nossas esperanças parecem vacilar, numa separação tão forte. Foram embora nossos melhores amigos, calorosos amigos desde sempre. Tornaram-se um dos nossos pontos de referência. Não conseguimos conter as lágrimas e a tristeza. Longas foram as noites e dias em que nós os quatro nos divertimos.
Abandonamos a estação do Arco do Cego, dissimulados por entre a multidão que se apressa para não perder o autocarro. Lágrimas causadas pelas separações não são estranhas nesses locais. Observo estático uma mãe que chora desalmadamente pelo filho que parte, seu corpo fardado não esconde um jovem com medo, medo da separação. Meu coração entra em compaixão, perplexo, quase tenho vontade de o abraçar. Sim está viva a separação em mim. "vamos beber café?" pergunto-te eu. Sentamo-nos na esplanada e conversamos. Falamos sobre aquilo que aqui descrevo. Falas-me sobre onde vamos passar o fim de semana. Sim porque estamos ainda na sexta-feira. Praia? Casa? Cinema?. Todas as sugestões soam talvez um pouco enfadonhas, já estamos a cair um pouco na rotina de fazer sempre as mesmas coisas. O certo é que não chegamos a nenhum consenso.
Vamos para casa um pouco desanimados e tristes, fala-me constantemente de Giovani e Grazia, nossas perdas, ainda a digerimos os acontecimentos da tarde. Nossa noite vai ser um pouco fora da rotina, resolvemos sair, sem rumo certo. Vamos até uma discoteca. A porta parece tudo um pouco assustador, o barulho, as luzes, a quantidade de gente. Entramos e parece desaparecer todos os receios as luzes põem-nos em transe, corpos movem-se em harmonia com a música, em harmonia com outros corpos. Começamos definitivamente a deixar envolvermo-nos pelo ritmo que cada vez mais aclamava pela nossa sensualidade.
Os teus movimentos destacam-se do resto, não consigo descolar os olhos de cima de ti. E à medida que a noite passa, a música muda, nossos corpos seguem uma frenética reacção em cadeia. Somos levados pelos nosso instintos. Estamos a celebrar o nosso amor. O nosso mais secreto "eu", que não parece nada estranho, tudo familiar. A noite chora lá fora, chora a nossa ausência, nós a sentimos. E saímos, para mais uma aventura. Não estamos minimamente preocupados com as horas, nem com ninguém, só importa a nossa diversão, nossa forma de esquecer. Já a noite havia caído no horizonte, a manhã dominava o céu. O sol entrava em nossos olhos, intrometendo-se no nosso sono, entrando sem permissão, teu olhos estão claros. Um castanho que não consigo descrever. E dizes-me precisamente o mesmo. Fiquei surpreso e até cheguei a pensar que estás a ler os meus pensamentos, sim estás. Até porque o beijo que ainda estou a pensar estas já a pedi-lo. O cansaço já é grande mas ainda restam energias para o que estou a pensar, vamos. Vamos perder-nos nos lençóis. E de facto a cama parece o nosso melhor refugio depois de uma noite agitada, vamos agitar e aquecer a nossa cama. O nosso quarto parece sorrir a nossa entrada triunfante, até me atrevo a dizer que está mais bonito agora depois de uma noite fora. Não consigo recordar nenhuma altura em que as nossas roupas fossem desabotoadas de despidas tão rápido. A noite passou rápido, mas aquele momento de reencontro teria de eternizar. Mais uma vez voltamos a suar, como se a música soasse em nosso ouvidos. Soletras-me ao ouvido "Amo-te". Meu Deus isso é verdadeiro prazer, estes teu lábios roçarem-me ao ouvido. Percorro cada curva do teu corpo, sinfónico, com curvas bem definidas. Cada gesto meu é respondido com um suspiro de alegria, divertimo-nos a falar do nosso amor. "Tudo o que precisas é de amor!".
"És um tolo, preciso de ti!". "a quantos homens já disseste o mesmo?", conversas e desconversas de uma pura inocência sem maldade, bem destacada pelos nossos sorrisos. Teus lábios brilham a luz, tua pele reluz a sua beleza, meu deus estou apaixonado por uma deusa. Este pensamento excita-me, tu correspondes-me ainda na projecção do que sinto. Fazemo-lo suave e brutalmente, amamo-nos ao nosso sabor, até os nossos desejos escondido por uma noite inteira serem absolutamente satisfeitos. Desejo que nunca acabasse. E mais uma vez repetimos como se a lição ainda estivesse aprendida. Teimosamente retornamos ao nosso ritual, em um dia que parece ter fim e nossa vontade é de atrasar o inevitável. Quando já só resta dois corpos exaustos, desgastados e atirados por cima da cama, ainda movidos pela força de batidas cardíacas, respiramos de alivio por termo-nos superado.
Sábado é um dia de glória, nossa glória. Seguimo-nos um ao outro em uma aventura que foi marcada pela noite, pelo dia seguinte.
Bom dia as nossas almas! Nunca pensei sentir assim, grande pelo acto, como se nunca tivesse vislumbrado o céu anteriormente. Quero sentir-me dentro do teu beijo. Todos os dias amo-te mais e mais. Ouves o meu coração? Ele diz-me para dar-te tudo. Subitamente o mundo tornou-se perfeito, subitamente a nossa vida deixou de parecer uma perda. Passamos a ganhar muito. Vencemos a nossa batalha. Somos vencedores. Duelo injusto, dois vencedores.

Comentários

Anónimo disse…
texto de redescoberta, muito bem escrito. Um doce e profundo resnacer. Beijos.
Anónimo disse…
adorei o novo espaço. beijos!
Anónimo disse…
O amor por vezes é doloroso, mas é sempre lindo...
Anónimo disse…
Lembro-me da 1ª vez que li este texto. Gostei tanto como da 1ª. 1 abraço.
Anónimo disse…
hm.. mt bonito, apesar de já o ter lido no outro blog, mas gostei de o ter lido outra vez...***

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Será estar apaixonado por aquilo que se vive a melhor garantia de juventude?

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Distorção cognitiva

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William Bouguereau Invading Cupid´s Realm 1892 Posterior ao encontro mundano e a tua franqueza explícita tivemos uma visão intrínseca do mundo e do ser pioneiro. O corpo, um desígnio da decrépita percepção verbal[*], estranhíssimo à alma gigantesca; uma mente burlesca; resultante do sentimento intemporal. Uma malícia que se esconde na memória; Um sorriso instigante nos lábios da vida; Um reflexo da existência nunca esquecida; O sentido melancólico de glória. Gerúndio do tempo; Da espiral espaço-temporal, Cronologia sem igual Assaltando-nos em tormento. Vai-se a vida, Da nossa alma, querida. É uma vida, vivida e sofrida, do presente ao passado, recordado de bom grado, como um mistério revelado. Senti esse sabor, perdido no tempo. Com um gesto secular (como a sensação de viver um momento durante séculos), vislumbro a noite que há-de vir. Premeditando ou profetizando, sou o que sou e gritarei versos poeticos para suavizar a carícia. Indignados, vivemos neste Fado (sorte, agouro; aquilo qu...