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Le Roi est mort, Vive le Roi




Breve nostagia que assola as noites,
neste grito rasgado em voz rouca.
Que recorda que de todas as vezes foram poucas,
mantendo por largos tempos o olhar afastado
do jogo de emoções das tardes quentes.

Foi Rei e morreu.

Caiu na sua própria desgraça e não disfarça
que o seu leito molhado e desarrumado já nada tem graça.
Dessa morte não sei dizer e acho que não há nada a fazer.
Dessa lágrima que desce quente e arrefece rapidamente.
Nos sonhos fracassados e não contados pela vergonha,
que o menino veio ao mundo, entregue por uma cegonha.
O ténue fio dessa breve memória, aquela registada pela história.

E enquanto o Rei estiver vivo o leito da sua Dama será sempre aquecido.

O nobre que no fino traço desenhou as belas curvas da Dama
Sobre a folha branca, deitado, corpo desnudado na cama.

Das Damas lindas como ela.
Conta-se que uma princesa bela
Numa noite de luar
No mar foi banhar.
Foi-se livrar dos seus pecados.
Dos seus feitiços e encantos
Repletos de perigos e outros tantos.
Deixando na areia, a roupa sua
Ali viu o Rei a sua Dama toda nua
Nas águas escuras banhou
O Rei sonhou e desejou
E das mãos da Dama colheu
A água fria como o breu
Fogo de uma ousadia tamanha.
Dois corpos nús, um ao outro banha
Ela admirou-se da sua fama, seu esplendor
Sua beleza, inspiração ao conquistador.
O silêncio profundo é perfeitamente audivél
O Rei morreu, viva o Rei. É incrivel.

-x-

"Le Roi est mort, Vive le Roi" é um poema de Mestrinho que evoca uma atmosfera de nostalgia e reflexão sobre a passagem do tempo, a impermanência da vida e os ciclos de emoção que acompanham a experiência humana. O título, que em português significa "O Rei está morto, viva o Rei", é uma expressão que simboliza a continuidade e a transição, refletindo sobre a dualidade entre a morte e a vida, o fim e o recomeço.

O poema inicia-se com uma forte sensação de perda, onde o autor expressa a dor de uma despedida, sublinhando a fragilidade dos momentos vividos. A ideia de que "Foi Rei e morreu" sugere não apenas a morte de uma figura de autoridade, mas também a morte de sonhos e momentos que, embora tenham sido grandiosos, são agora apenas memórias. Essa dualidade permeia todo o texto, criando uma tensão entre a beleza das lembranças e a tristeza da perda.

À medida que o poema avança, Mestrinho utiliza imagens líricas para descrever o leito do Rei e sua Dama, trazendo à tona a intimidade do relacionamento e o sobrenatural da conexão entre os amantes. O autor fala sobre os "sonhos fracassados" e a vergonha que por vezes acompanha as memórias, apresentando um retrato de vulnerabilidade que ressoa com muitos leitores. As emoções são descritas de forma visceral, criando uma ligação direta com a percepção de quem lê.

O verso "Enquanto o Rei estiver vivo, o leito da sua Dama será sempre aquecido" revela a continuidade do amor e do desejo, mesmo na presença da morte. Essa frase encapsula a ideia de que, embora o Rei possa ter partido, a memória e o amor que ele representa permanecem vivos, perpetuando a sua história e a conexão emocional que existiu.

O poema inclui também elementos de mitologia e romance, enquanto evoca a imagem de uma princesa que se banha em águas escuras, simbolizando a purificação e a libertação dos pecados. Esta figura feminina é retratada como uma musa que inspira o Rei, mostrando que mesmo na morte, a beleza e a arte continuam a brotar da memória. O autor utiliza a simplicidade das imagens para criar profundidade emocional, permitindo que o leitor se identifique com a narrativa.

Conforme se desenrola, a obra culmina em uma reflexão sobre a inevitabilidade da morte e a celebração da vida, mostrando que mesmo nas horas mais sombrias pode existir um resplendor de beleza e amor. O tom é ao mesmo tempo melancólico e esperançoso, sugerindo que, embora o Rei tenha partido, sua essência vive nas memórias e no impacto que causou.

"Le Roi est mort, Vive le Roi" é, portanto, um poema que encapsula a luta entre a vida e a morte, entre a alegria e a dor, criando uma tapeçaria emocional rica que fala sobre o que significa amar e perder. É uma celebração da resiliência do espírito humano e da capacidade de encontrar beleza e significado mesmo nas circunstâncias mais difíceis. Através de uma linguagem poética envolvente, Mestrinho logra transmitir emoções profundas que reverberam na experiência coletiva da existência.


© Mestrinho

Comentários

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